Histórico

Observamos a queixa comum de pacientes, familiares e outros, que nunca ouviram falar do câncer que afeta o osso. Para muitos médicos, principalmente os médicos ortopedistas, contudo, sempre foi um conhecido temido, pois até alguns anos atrás nada mais que amputações misericordiosas eram realizadas nos cânceres malignos, hoje não que tenhamos conseguido controlar esta doença, mas podemos oferecer algo mais que esperança. Ou seja, um tratamento mais adequado para cada caso.

É claro que não se tenha ouvido falar neste tipo de tumor, pois ele corresponde de 1% a 1,5% de todos os cânceres no geral. Esta estatística esta inserida no global, mas quando estratificamos vemos que esta pode ser vista uma incidência maior na faixa etária da segunda década e outra entre a quinta e sexta década, na segunda década e devido principalmente ao osteossarcoma e sarcoma de Ewing, e entre a quinta e sexta década e devido ao câncer ósseo chamado de Condrossarcoma, isso, porém é diferente de um câncer originário do pulmão ou da mama ou de outro órgão e que, disseminado para osso, este passa a ser chamado de metástase óssea, que significa a doença espalhada que veio de outro tumor.

Mas o câncer ósseo primário, o origina-se no osso, representa a quarta causa de câncer em pacientes pediátricos, atrás das leucemias, linfomas e tumores cerebrais, sendo o responsável atualmente pelos maiores índices de óbito nesta faixa etária. Assim ao falar de câncer no osso é importante a atenção em relação a faixa etária que se está observando.

Devido a sua apresentação clínica e tratamento, tanto a forma primária, a que nasce no osso, ou a secundaria, metástase óssea, que é a disseminação, tornou-se uma doença marcante.

O tumor do osso primário é conhecido por séculos, mas pouco entendido porque não havia e o tratamento ficava restrito a amputações, enquanto aguardávamos uma possibilidade de sobrevida. Infelizmente muitos acabavam por morrer porque a doença acabava disseminando-se no pulmão, criando o estigma de que o câncer do osso era morte certa.

Prosseguindo com informações históricas, até a metade do século 20 a oncologia ortopédica não era conhecida como hoje, era apenas um embrião. Após décadas de coleta de dados e analise e descrições histológicas, por inúmeros patologistas, podemos citar os mais importantes, James Ewing, Lichestein, Jaffe, Schajowicz e outros tantos que descreveram novas modalidades de doença. Quando a Organização mundial de Saúde (OMS), convidou 10 patologistas de 9 países para organizar os tumores ósseos, um brasileiro estava entre eles, Prof. Dr. Jose Donato de Prospero, patologista da Santa Casa de São Paulo publicada em 1993.

Os critérios da patologia do tumor ósseo e os critérios radiológicos da apresentação do tumor ósseo passaram a ser integrados, e aparece o termo tripé para diagnostico do tumor ósseo: Patologista, Radiologista e Ortopedista, a partir deste momento, a complexidade do entendimento e condução futura era importante esta interação, isso continua atual e necessário mesmo com todo e qualquer avanço da medicina que vier!

Assim, para se ter uma ideia de quanto o tratamento da doença era problemático, a recidiva em tumores benignos, como, por exemplo, o tumor de células gigantes, ocorria entre 40% a 60% dos casos diagnosticados.

Em tumores ósseos malignos, com amputação, havia 20% de chances de sobrevida em 5 anos. São dados históricos, antes do inicio da quimioterapia, a partir da década de 70.

Na ressecção de tumores de partes moles – também conhecido como “tumor no músculo” – em pacientes que não queriam a amputação havia recorrência ou recidiva de 50%.

Porém, outra forma de tratar pacientes sem metástases era irradiar o tumor maligno. Após seis meses de observação, caso o paciente não houvesse desenvolvido metástase – “nódulo no pulmão” – em consequência o paciente era submetido a amputação. No entanto, os pacientes que chegavam com o tumor e com os nódulos disseminados no pulmão eram tratados somente com medicamentos para dor tipo morfina e amputações misericordiosas para tumores que ulceravam na pele. Geralmente este tratamento era feito por ortopedistas com pouca ou nenhuma prática no tratamento desta patologia. Por estes pequenos relatos históricos da para perceber porque era uma doença marcante, sendo o tumor ósseo primário ou metastático significava sofrimento.

COMO SE DESENVOLVEU A ESPECIALIDADE

O tratamento do tumor ósseo maligno era tratado de maneira global por inúmeros médicos, o tratamento mais especializado era restrito a poucas instituições, podemos dizer que era mais do que uma curiosidade.

Quando iniciaram o desenvolvimento de novas habilidades para tratar os tumores ósseos. Vale lembrar que o antibiótico ficou disponível durante a II guerra para soldados aliados somente, e após uma década estava disponível a vários hospitais assim foi possível arriscar outras formas de tratamento, pois os pacientes não morreriam por infecções pós-operatórias, o que não acontecia muito ao se realizara a amputação de membros.

Durante a década de 60 o desenvolvimento de novas maneiras de fixação de fraturas impulsionam novas formas de preservar o membro, e passa-se a pensar menos na amputação. Logo após a segunda guerra John Scales, de Stanmore na Inglaterra iniciou o desenvolvimento de megaproteses para corrigir o defeito provocado na ressecção do tumor ósseo, em 1958 Merle d’Aubigne descreve uma ressecção especial com artrodese ao redor do joelho, ai nasce a cirurgia de preservação de membros. Nilsonne incia a tratar paciente scom tumor de pélvis com cirurgias menos multilantes, ressecando o osso e deixando solto o balante, chamomos de hemipelvectomia interna. Ottolenghi na argentina, Mankin EUA, desenvolvem o suo do enxerto maciço, estes tipo de tratamento foi baseado nos estudos iniciasi de Chase e Herdon que estudaram muito os enxertos autógenos, (osso próprio) e homólogos (osso humano doado, banco de ossos). E Pho começou o uso de osso vascularizado nas reconstruções de defeito ósseo.

Vários centros ao redor do mundo, mas especialmente Inglaterra e Estados Unidos estavam mais avançados na tecnologia de produzir megaproteses, e ao redor dos anos 70 começam a aparecer centros e médicos se especializando em tratar tumores ósseos.

Na década de 70 e 80 na Mayo Clinic, iniciava também o uso de próteses sob medidas para substituir as ressecções ósseas, e três médicos, Jack Ivins, Frank Sim e Edmund Chao realizam em Rochester em Setembro de 81 o workshop sobre “Desing and Application of Tumor Protheses for Bone and Joint Reconstruction”, onde foi o embrião inicial da fundação da Interantional Symposium on Limb Salvage (ISOLS), o segundo foi em Vienna,em 1983, Dr. Koltz e o terceiro em Orlando, em 1985, Dr. Enneking, nesta ocasião já havia o estadiamento bem como a avaliação funcional proposta por Enneking, que se mantém atual até hoje, a partir deste terceiro simpósio ficou profissional e seria itinerante para vários países dos continentes.

“GUERRA CONTRA O CANCER”

Em 23 de Dezembro de 1971, o presidente Nixon assina uma prioridade na saúde norte americano que foi batizada de “Guerra contra o Câncer”, que era conseguir a cura do câncer, trouxe esperança e frustrações, mas acima de tudo possibilitou trilhar caminhos antes nunca explorados com verbas fartas.

Esta atitude não deliberada, antes tem um histórico que deve ser lembrado, muito antes desta assinatura. Iniciado por Dr. Sidney Faber um patologista que instigado por falta de esperança no tratamento da leucemia inicia o tratamento com medicamentos denominados de antifolatos de crianças com leucemia, tendo inúmeras derrotas para tratamento desta doença, mas soube que sem recursos não poderia avançar na ciência e na cura desta doença.

Teve ajuda da Sra Mary larke, uma socialite que teve grande influencia na progressão na obtenção de verbas seja por doações bem como de verbas providas pelo governo, pois eles viam que o numero alarmante de pessoas morreriam a cada ano devido o câncer. Mas muitos envolvidos até conseguir uma forte pressão popular para obter mais verba para o câncer pelo governo americano, naquele dia ao ser assinado a lei, que não era definitivamente a que desejavam, se afastaram e deram lugar a outros que por forças não claras, dariam outros rumos a pesquisas na área do câncer.

A ORTOPEDIA ONCOLÓGICA NO BRASIL

Podemos dizer que no Brasil, até 40 anos atrás, poucos médicos estavam interessados em tratar esta doença, como ocorria no resto do mundo. No meio médico, a Argentina saiu na frente com o registro de câncer do serviço do professor Ottolengi, e a introdução das endopróteses não convencionais confeccionadas em polietileno pelo médico e engenheiro Dr Fabroni, pois endoproteses de metais eram difíceis de confeccionar. Ao mesmo tempo, a USP como Prof. Dr. Pires de Camargo e na Santa Casa de São Paulo foram às pioneiras na dedicação ao tratamento desta doença e também na formação de outros profissionais. A seguir, formaram-se outros centros no Brasil, em 1988, no Congresso Brasileiro de Ortopedia, em Brasília, foi fundado o Comitê de Tumores Músculo-Esqueléticos. Sendo que em 1996 foi fundada a Sociedade Latino Americana de Tumores Músculo-Esqueléticos, acontecendo em 1998, em Vila Velha – ES, o primeiro Congresso Brasileiro de Tumores Músculo-Esqueléticos.

O Brasil passa a ter relevância internacional a medida que os profissionais especializados passam a frequentar a sociedade internacional, e em 2003 com o congresso da ISOLS, Sociedade internacional para Tratamento de Cancer Ósseo, no Rio de Janeiro, contando com os maiores especialistas mundiais da área neste evento, este evento foi um dos maiores nesta especialidade, e com um numero expressivo de participantes. O presidente do congresso foi Prof. Dr. Reynaldo Jesus-Garcia.

Em 2006, em Florianópolis, foi reconhecida a Sociedade Brasileira de Oncologia Ortopédica, pela sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia – SBOT, durante o 5º. Congresso Brasileiro de Ortopedia Oncológica. Os congressos brasileiros são bianuais percorrendo estados brasileiros, o ultimo realizado em Tiradentes, MG em abril de 2012.

Consequentemente, os brasileiros seguiram os caminhos percorridos por médicos americanos, houve uma modernização na especialidade, na busca de melhores resultados clínicos e funcionais.
O tratamento desta doença conta com a necessidade de integrar outros especialistas como, radiologistas, patologistas, radioterapeutas, oncologistas clínicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos e muitos outros, pois o conhecimento aumentou os desafios!